Ser mulher! Ser mulher é sentir no corpo um rebuliço todos os dias, independentemente da atitude que adotamos está sempre presente algum grau de julgamento, pelos que nos rodeiam, e que nos conhecem, e, também por todos os que à nossa volta, de uma forma ou outra contactam connosco, mas até por nós, porque a sociedade foi semeando um conceito que embora incoerente com a vida que vivemos deixou crescer com força e saúde, agarrando-se a pressupostos que penso já não deveriam existir. Há uma espécie de papel que parece talhado e sempre que fugimos dessa regra devemos estar agradecidas pela não submissão, por termos direito a uma opinião, por termos direito a uma vida nossa, decidida por nós. O ruído mental assola-nos a cada segundo e nem sempre é simples viver segundo o padrão que nós próprios estabelecemos tentando não colidir com todas as ideologias que a sociedade de alguma forma impôs. E no meio de tudo isto, temos, ainda, os outros, aqueles que na intimidade vêm em nós, simultaneamente, um modelo do modernismo e do tradicional ultrapassado (julgo eu). Contudo, não somos super humanos, é difícil viver à altura de todos esses padrões pré estabelecidos. É difícil ser gentil, sensível, meiga a cada segundo, é difícil não chorar, não gritar, não ficar aborrecida com o próprio pensamento. Muitas vezes não andamos necessariamente em luta com ninguém, mas apenas connosco ou a combater uma ideia de mulher que não é a que somos. O cérebro fervilha a cada segundo, todos os instantes do dia em pensamentos, ideias, adivinhações, premonições, preocupações, lembranças, registos mentais de uma lista de tarefas que idealizámos e que nem sempre termina, um trabalho que muitos nem percebem que está lá. Há sonhos, desejos, anseios aqui no meio, mas tantas vezes ficam em segundo plano para dar lugar a tudo o que é prioritário, e o que é prioritário, nem sempre é ser mulher, simplesmente mulher, é olhar o outro, os outros, dar conta da realidade que criámos, que construímos e que pode ruir de tão frágil num mundo ainda pouco feminino… Esse ruído que nos assola a alma em consciência, apaga-se apenas por escassos momentos, aqueles em que adormecemos em paz a desejar que um novo dia seja mais soalheiro, mais quente de compreensão, mais consciente do que somos, do que fazemos, do investimento em prol de todos os que convivem connosco, mais empático, mais compreensivo desse tal ruído mental sempre presente porque o cérebro da mulher não conhece pausas a não ser aquelas do sono profundo que nem sempre acontece… Mas ainda assim, ser mulher é ser confusão, é ser eu, ainda que nem sempre seja ser aceite.
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